SOCIEDADE

Provavelmente não sabia disto

Sede sóbrios e estai vigilantes: o vosso inimigo, o demónio, anda à vossa volta, como leão que ruge, procurando a quem devorar. Resisti-lhe firmes na fé. (1 Pedro 5, 8-9)

São Pedro exorta-nos a sermos vigilantes para que não nos deixemos enganar pelo maligno. Esta “coluna” no site da nossa paróquia servirá, entre outros fins, para nos ajudar no cumprimento desse ensinamento.

Apesar de vivermos numa “sociedade de informação”, onde os dados, os números ou as estatísticas são abundantes, seja na rua, nos órgãos de comunicação social ou mesmo nas redes sociais, a verdade é que nem sempre essa informação tem a qualidade ou a abrangência necessária para que possamos cumprir fielmente este ensinamento da Igreja.

Quando falamos de abundância de informação, nestes dias, não há exemplo melhor que o Covid. Não há dia em que esta pandemia – que parece ter vindo para ficar mais uns tempos entre nós – não tenha direito a honras de capa de jornal ou de abertura de noticiário. Tudo é sobre o Covid: as políticas do Governo, as comunicações da DGS, a economia, os fundos de Bruxelas ou a famosa e sebastiânica vacina!

A verdade é que, mesmo com tanta informação sobre o Covid, certamente nunca ouviu algum jornal português colocar em causa a moralidade da vacina que anda a ser preparada. Será apenas coincidência?

Certamente sabe que as grandes empresas farmacêuticas estão numa enorme corrida para produzirem a primeira vacina contra o Covid. Neste momento, há 43 vacinas em fase de testes em humanos (sendo que 5 destas já estão pré-aprovadas) e pelo menos outras 93 que ainda se encontram na fase de testes em animais.

Se calhar até já ouviu dizer que existe uma enorme polémica porque a produção da vacina pode vir a matar milhares de tubarões!

O que provavelmente não sabia é que, muito mais grave do que utilizar um ingrediente vindo dos tubarões, há uma série destas vacinas em desenvolvimento que utilizam células de bebés abortados. É o caso de vários dos grandes laboratórios a nível mundial: Moderna, AstraZeneca (a famosa vacina de Oxford), CanSino Biologics e a Inovio Pharmaceuticals utilizaram uma cultura celular originária de um rim de uma menina abortada na Holanda em 1972. Já a Janssen (parte da gigante Johnson & Johnson) utiliza uma cultura celular diferente, com origem na retina de um menino de 18 semanas abortado na Holanda em 1985. Tudo isto subsidiado por milhares de milhões de dólares pagos por contribuintes.

A utilização destas células derivadas de bebés abortados não é nova e a Igreja, mãe atenta, já em 2008 se pronunciou sobre este assunto na instrução Dignitas Personae da Congregação para a Doutrina da Fé. Neste documento, a Igreja é claríssima ao afirmar que, embora possam existir razões graves – por exemplo, o risco de vida de uma criança – para a utilização deste tipo de vacinas, mesmo nessas situações permanece o «firme o dever da parte de todos de manifestar o próprio desacordo em matéria e pedir que os sistemas sanitários disponibilizem outros tipos de vacina» (nº 35). Não se trata de uma imposição cega ou de qualquer forma de rigorismo. Trata-se, por um lado, do reconhecimento da dignidade inviolável de qualquer vida humana, independentemente da sua capacidade mental, maturidade, sexo ou etnia e, por outro, do reconhecimento simples de que já existe uma série de alternativas viáveis a estas células de origem ilícita: sejam as células de origem animal, sejam as células estaminais com origem no cordão umbilical, no líquido amniótico, em tecidos adultos (como a medula óssea) ou até a opção ainda assim moralmente mais aceitável de tecido embrionário mas de bebés que morreram de causas naturais.

São este o tipo de alternativas que estão a ser utilizadas por alguns dos maiores laboratórios mundiais: Sanofi, GSK, Merck e Novavax, laboratórios que utilizam células de fontes éticas na sua investigação. Não parece haver razão para crer que as vacinas contra o Covid tenham de utilizar células de origem ilícita.

Ora, embora ainda não exista nenhuma vacina aprovada, o Estado Português aderiu a um programa da União Europeia para comprar 6,9 milhões de vacinas, fazendo um investimento de 20 milhões de Euros dos nossos impostos. A nossa responsabilidade como Católicos deve passar, pelo menos, por (1) Fazer pressão junto do Governo por todos os meios lícitos que estejam à nossa disposição para que este opte por uma das vacinas de origem ética e (2) caso tal não seja possível, antes de tomar a vacina, fazer a nossa própria análise moral para compreender se a gravidade da situação justifica que se utilize uma vacina com origem ilícita. Não nos esqueçamos: Sede sóbrios e estai vigilantes…

Bernardo Brochado

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