FÉ E CULTURA
Fé, Átomos e Como Fazer a Diferença
“Eu não acredito em Deus porque a religião é contra a ciência.”
Qualquer Católico em Portugal provavelmente já ouviu isto. Amigos nossos, colegas, e até familiares, usam a ciência para justificar o seu afastamento da Igreja Católica. No entanto, a história mostra que a Igreja Católica foi a instituição que mais promoveu a Ciência desde a Idade Média até praticamente ao século XX. Nomes de grandes cientistas Católicos são um exemplo disto, como Nicolau Copérnico (1473-1543), o cónego polaco que inventou o heliocentrismo (a teoria em que o Sol está no centro do sistema solar), Georges Lemaître (1894-1966), sacerdote belga que inventou o Big Bang, ou o Beato Nicolau Steno (1638-1686), Bispo dinamarquês que o princípio da sobreposição dos estratos – o fundamento da geologia moderna.
A história da relação entre Catolicismo e Ciência tem outros episódios importantes, mas menos conhecidos. Na Idade Média, o aparecimento das universidades veio acompanhado de um interesse muito grande pela ciência de Aristóteles. Muitos recearam este crescente interesse em Aristóteles, dado Aristóteles ter algumas ideias contrárias à doutrina Católica. Mas S. Tomás de Aquino resolveu o problema, unindo o Catolicismo ao Aristotelismo. S. Tomás deu respostas a muitas perguntas de teologia, mas também de filosofia natural, a ciência na altura. Desde então a física de Aristóteles foi usada praticamente até ao século XVIII, em grande parte por causa de S. Tomás, que a cristianizou.
No século XVII houve um novo problema com o aparecimento de teorias atómicas, opostas à física de Aristóteles e, segundo muitos, contrárias à existência de Deus. Foi graças ao trabalho do sacerdote Católico francês Pierre Gassendi (1592-1655) que o atomismo se tornou popular na Europa. Gassendi mostrou não só como muitos fenómenos naturais se podiam descrever melhor através da “física de partículas”, mas também que era possível reconciliar o atomismo com o Cristianismo, em particular com a existência do livre arbítrio. Num universo feito de átomos podia haver o perigo de achar que tudo são partículas em movimento, sem espaço para Deus e para a alma. Gassendi explicou não só como é que o universo é feito de partículas, mas também que foi Deus quem criou essas partículas e lhes deu movimento.
Estas histórias são bem conhecidas em História da Ciência, mas quase mais ninguém as conhece, mesmo a maior parte dos Cristãos. Todas as pessoas que andaram na universidade dedicaram horas a estudar as suas disciplinas. Mas será que dedicaram sequer metade desse tempo a estudar a sua Fé, que é talvez mais importante? Como disse um grande santo do século XX, “se tens de servir a Deus com a tua inteligência, para ti estudar é uma obrigação grave”. A vida universitária e intelectual de um Cristão devia incluir tempo para estudar a Fé, por exemplo lendo o Catecismo. Mas também tempo para estudar temas relevantes para cada disciplina, tal como Fé e Ciência. Um bom livro para aprender mais sobre Gassendi e outros cientistas Cristãos é este: Galileu na Prisão e outros mitos sobre Ciência e Religião. O livro foi originalmente publicado pela Harvard University Press e esta tradução portuguesa está à venda novo por menos de 5€ no wook.pt. Tal como diz um dos autores do livro, “o registo histórico deixa claro que a Igreja Católica foi provavelmente o maior e o mais duradouro mecenas da ciência na história, muitos dos participantes da Revolução Científica eram Católicos e muitas instituições e ideias Católicas foram chave para o nascimento da ciência moderna.”
NCB
(este texto é uma adaptação de um texto publicado em 2018 na revista Partilha)