«Chamou os que Ele queria»

Testemunho do Daniel Balhico

Pouco antes da minha entrada no seminário deparei-me com a passagem de São Marcos do relato da escolha dos doze apóstolos:

«Jesus subiu depois a um monte, chamou os que Ele queria e foram ter com Ele. Estabeleceu doze para estarem com Ele e para os enviar a pregar, com o poder de expulsar demónios.» (Mc 3, 13-15)

Aquilo que me chamou à atenção nesta passagem é o facto de Jesus, depois de escolher os apóstolos, não explicar as razões pela qual escolheu cada um deles. Na verdade, «chamou os que Ele queria», esta é a única razão que interessa conhecer, este é o critério de escolha dos Seus operários. Aquilo que venho rezando, ao longo destes quase dois anos de seminário, é que a Sua vontade é a única razão para tudo. Ela não operou desta forma somente na altura do meu chamamento, mas continua a acompanhar-me ao longo deste caminho, sobretudo na minha espiritual. Esta vontade, que é a razão de tudo, tem um nome: amor. Como é que eu posso resistir à Sua vontade se ela é amor, como posso eu recusar o Seu amor? Infelizmente, eu sou um vil pecador e viro, não poucas vezes, as costas a esse amor e nego-Lhe o meu, mas felizmente nada pode impedir que Ele me ame e perdoe os meus pecados.

Tenho sido constantemente chamado a carregar a minha cruz silenciosamente, sem saber o porquê, sem perguntar as razões, mas apenas confiando no amor de Deus. Depois de me dispor a segui-Lo o caminho não ficou mais fácil, a exigência deste Deus “ciumento” aumenta, Ele reforça o Seu pedido: que eu O ame mais e mais perfeitamente. E onde irei eu responder às Suas exigências senão no conforto da oração e na alegria da caridade? Ele concede-me tudo o que preciso para superar as provações e tentações. Ele concede-me tudo o que preciso, O Seu amor de Pai. De tal maneira tenho descoberto o Seu amor por mim, que ele tem tomado forma. A grande forma, a mais visível, a mais palpável, é a Sua entrega na Santa Missa, a sua doação total, ao ponto de pedir que me una a Ele pela comunhão do corpo de Seu Filho, mais palpável que isto é impossível!

A cruz tem muitas vezes um aspecto pesado e até horroroso, mas é na verdade aí que está a beleza deste percurso de seminário. O peso da cruz tem sido, para mim, confirmação da vocação Sacerdotal. Nós lemos as vidas dos Padre Santos e todos eles são “homens habituados ao sofrimento”. Todos eles se gloriavam nas suas cruzes, pois era aí que mais amavam o Senhor Jesus e as almas que lhes tinham sido confiadas. Estes tempos não têm sido fáceis para ninguém. São tempos de incerteza, de tristeza, de perda, mas na verdade, à semelhança da cruz, são maravilhosos. Como Cristão, e sobretudo como seminarista, tenho assistido às misérias pelas quais tantas almas têm passado. Que oportunidade tão boa tem sido esta. Oportunidade para amar o próximo, carregar as suas dores e curar as suas feridas. Mas de nada disto seria capaz se não fossem as orações daqueles que rezam pelas vocações, que rezam pelos futuros operários da messe do Senhor.

Como podem ver, queridos amigos, a minha vida enquanto seminarista não tem sido outra coisa senão uma vida de amor a Deus. Decidir-se a cumprir a vontade do Senhor é começar um romance com Deus, em que tudo o que se faz se transforma em actos de amor, antecipando aquele único e perfeito acto de amor que todos faremos no Céu ao lado de nossa querida Mãe. Que nossa Senhora ajude todos os que procuram a vontade de Deus e os conduza para o amor do Pai.

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