«O que é que o Bom Deus quer de mim?».

Testemunho do Luís Pinto-Coelho

É Domingo do Bom Pastor. Depois da Missa Solene das dez e meia, as mesas estão dispostas lá fora para o churrasco; dois seminaristas vestiram a batina de trabalho para se ocuparem da grelha. Há linguiça, bom pão francês, cerveja… Evidentemente, nem todos os dias são assim, no seminário: esta é a festa padroeira do nosso instituto, o Instituto do Bom Pastor.

Cheguei ao seminário no dia 3 de Outubro de 2020, para começar o ano propedêutico. No primeiro ano de faculdade havia começado a ir à Missa diariamente e a fazer oração, e deparei-me com uma pergunta que todos nos devemos fazer em qualquer altura das nossas vidas: «o que é que o Bom Deus quer de mim?». Perguntei-Lhe com insistência durante os anos que se seguiram. Acompanhado pelo meu director espiritual, discerni a minha vocação e senti-me chamado ao sacerdócio. Como terminasse o curso, entrei finalmente no Seminário São Vicente de Paulo, em Courtalain (França), atraído sobretudo pela liturgia tradicional e pela formação tomista.

No seminário, todo o dia é ordenado, começando e acabando com o Ofício, e com tempos de oração, de silêncio, de estudo e de convívio. Acordamos cedo para cantar as Laudes, fazer oração e assistir à Missa; seguem-se o pequeno-almoço e as aulas, e a manhã acaba com o exame de consciência, na capela; depois do almoço, há um tempo de recreação e convívio, e o resto da tarde é dedicado ao estudo; por fim, assistimos a uma conferência espiritual, rezamos o terço em comunidade, jantamos e cantamos as Completas. Cerca das nove – logo após as Completas – começa o grande-silêncio, que acabará no dia seguinte. Eis, muito resumidamente, o horário típico de um dia de semana. Há, contudo, algumas excepções: à Terça-feira fazemos desporto à tarde, à Quarta-feira temos a tarde livre, à Quinta-feira o terço é substituído pela adoração do Santíssimo Sacramento. O Sábado é dedicado aos serviços – limpeza do seminário, arranjos, jardinagem… Os meus dois serviços, por exemplo, são o acolhimento – a preparação dos quartos para os hóspedes – e a Schola – o coro do seminário para as Missas de Domingo e dias de festa –, onde tenho aprendido técnica vocal e leitura de partituras. Finalmente, o Domingo é o dia de descanso – a Missa Solene é às dez e meia e a tarde é livre até às Vésperas, o que nos dá tempo para sair do seminário e dar um passeio por Courtalain ou ir visitar alguma outra terra.

A vida de comunidade também nos dá uma formação humana bastante rica. A língua franca é o francês, mas os cerca de trinta seminaristas vêm dos quatro cantos do mundo: há portugueses, brasileiros, franceses, polacos, ingleses, australianos, colombianos… As comparações de culturas, costumes e línguas são, naturalmente, muito frequentes.

Enfim, tenho vivido nos últimos meses uma experiência que não consigo resumir em poucas linhas, mas que me ficará certamente para o resto da vida. O primeiro ano, dedicado especialmente à espiritualidade, está chegando ao fim e seguem-se dois anos de filosofia e três de teologia. Tudo o que se recebe ao longo destes seis anos de seminário – a nível humano, intelectual e, sobretudo, de vida interior – é indispensável para a formação de sacerdotes que possam vir a ser instrumentos dóceis nas mãos do Bom Deus. Conto, pois, com as vossas orações: para que, perseverando, venha a ser um sacerdote à imagem de Nosso-Senhor Jesus Cristo, o Bom Pastor, que dá a vida pelas suas ovelhas.

Courtalain, 18 de Abril de 2021

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