“Não sejam vítimas da cultura”: um Bispo escreve aos jovens sobre o tema do aborto

Caros estudantes,

Todos os estágios da vida têm as suas bênçãos e desafios, as suas dádivas para oferecer à sociedade como um todo e as suas vulnerabilidades. Como jovens que são, vocês são idealistas, cheios de energia para advogar pela justiça e para transformar o mundo num lugar melhor. É para mim uma alegria, como vosso Arcebispo, testemunhar este idealismo enérgico quando visito a vossa escola.

Isto é uma grande bênção e é um dom que oferecem a todos nós. No entanto, ainda têm muito que crescer e que aprender; ainda têm muito sucesso e fracasso, alegria e sofrimento pela frente – e muita aprendizagem, também. Ser culto é procurar a verdade que nos é dada por Deus. Como vosso Arcebispo, rezo para que tenham abertura para aprender e crescer em sabedoria e, especialmente, que tenham abertura para ouvir e tentar compreender pontos de vista diferentes do vosso, mesmo aqueles com os quais discordam totalmente. Desejo que tivesse sido esta a atitude daqueles entre vós que saíram da recente apresentação feita pela activista pró-vida. Esta atitude torna clara uma das fragilidades próprias da juventude, fruto da sua falta de experiência de vida: a ingenuidade. Permitam-me que explique.

Todas as gerações valorizaram e contribuíram para o avanço da ciência. Ao mesmo tempo, a vossa geração, mais do que qualquer outra no passado, olha para a ciência como guia pessoal ao longo da vida. Olhemos, então, para o que nos diz a ciência acerca do aborto.

O aborto é o assassínio de uma vida humana. Isto é um facto científico. O feto no útero materno é um ser humano em crescimento único, com um ADN próprio. O método usado para matar depende do estágio em que se encontra a gravidez e o tipo de aborto, mas muitas vezes passa pelo desmembramento, pelo esmagamento do crânio e pela inceneração do corpo. Independentemente do método, o aborto é sempre um acto de horrível violência. Isto não é uma hipérbole, é um facto científico.

A ciência é um guia importante para nós, mas não o único – nem o mais importante, uma vez que o conhecimento científico está sempre em evolução. O aborto, como qualquer outra questão social, tem várias dimensões: política, societária, emocional, espiritual, relacional, económica, etc… Porém, como qualquer outra questão social, o aborto é principalmente uma questão moral.

Às jovens mulheres eu digo: a vossa fertilidade é uma bênção que deve ser acarinhada, não um problema que precisa de ser “resolvido” ou um dispositivo com um botão de on e off, utilizado consoante a vontade de cada momento. Deus deu-vos o extraordinário dom de conceber e de dar à luz um novo e único ser humano, com uma alma imortal. Sou suficientemente velho para me lembrar do tempo em que a nossa sociedade acarinhava e protegia este dom; de facto, com efeito, a própria sociedade estava organizada em torno dele. É verdade que nessa altura as mulheres estavam privadas de várias oportunidades que hoje têm, e este progresso deve ser celebrado. No entanto, isto não pode ter como custo abdicar deste extraordinário dom.

Aos jovens rapazes eu digo: houve um tempo em que, caso um homem fizesse algo que trouxesse inconvenientes para a sua vida, como verdadeiro homem, este assumiria as suas responsabilidades. Era também muito mais comum um homem respeitar uma mulher como seu igual, em vez de a usar para obter prazer egoísta. Não levaria a cabo actos que pudessem fazer com que se tornasse pai, a não ser que estivesse preparado para assumir essa responsabilidade: um compromisso de fidelidade para toda a vida com a mãe dos seus filhos e um compromisso de cuidar dos filhos que ambos trouxerem ao mundo. Ainda têm um caminho a percorrer até serem homens verdadeiramente masculinos e maduros. Se quiseres ser uma criança para sempre, passa a tua vida preocupado apenas contigo e com cada pequeno prazer efémero que desejes, já que para ser verdadeiramente homem é necessária uma vida de sacrifício e de virtude. Ser homem significa, também, ter uma atitude responsável, respeitando as mulheres como iguais e acarinhando e respeitando o dom extraordinário que elas têm de trazer novas vidas a este mundo.

A todos digo: não sejam vítimas da cultura. Há forças poderosas na sociedade em que vivemos que usam slogans para vos recrutar para agentes das suas agendas. É preciso ver além dessas mentiras. Quem providencia abortos não é “pró-escolha”: cada nascimento é, para eles, menos receita. Se fossem “pró-escolha”, por que não providenciam às mulheres que consideram abortar os meios necessários para que possam optar pela vida dos seus filhos? Eles também afirmam estar do lado das mulheres, mas onde estão eles quando as mulheres que sofrem as dores do aborto precisam de apoio? Porque é que as mulheres nesta situação não são ouvidas, sendo obrigadas a guardar esta dor no seu interior, aprofundando a sua tristeza e depressão? Para quem se podem virar quando finalmente optam por procurar ajuda?

Elas viram-se para a Igreja. Apenas pessoas de fé dão às mulheres esta oportunidade – e quase sempre os nossos irmãos católicos. Não poderia estar mais orgulhoso deles. Não sabem disto porque existe uma cultura de silêncio que o oculta, mas aqueles de nós que colaboram na pastoral conhecem bem as queixas das mulheres que passaram pela experiência traumática do aborto: “não queria recorrer ao aborto, mas senti-me sem opções”. Isto desmascara a mentira “pró-escolha”. É também por isto que os “prestadores de serviços” de aborto mentem às mulheres acerca do que está dentro do seu corpo, dizendo-lhes que é apenas um amontoado de células e não um bebé único a crescer dentro da sua barriga. E se duvidam disto, basta verem ecografias.

Quem são aqueles que realmente são “pró-escolha”? Mais uma vez, são as pessoas de fé. São pessoas de fé que dirigem centros que dão as condições necessárias às mulheres para levarem a gravidez até ao seu termo, e que continuam a apoiá-las após o nascimento dos seus bebés com cuidados de saúde gratuitos, fraldas, lençóis, leite de fórmula, disponibilizando ajuda psicológica e espiritual, acompanhando-as no processo de adopção, se for essa a sua escolha, ajudando-as a encontrar um emprego, etc. São as pessoas de fé que percebem que a resposta a uma mulher em crise numa gravidez não é a violência do aborto, mas o amor pela mãe e pelo filho. E, mais uma vez, não poderia deixar de estar orgulhoso dos meus irmãos na fé que oferecem e apoiam esses serviços amorosos e vivificantes que dão esperança real às mulheres que se sentem sozinhas e abandonadas.

Aqueles de nós que se estão a aproximar dos estágios finais da vida também temos os nossos próprios dons a oferecer, bem como vulnerabilidades. Podemos tornar-nos cínicos e apáticos após experiências de traição, engano e fracasso. Mas também temos muita experiência de vida com a qual podem aprender. A minha sincera esperança é que cultivem a vossa energia idealista pela justiça, enquanto aprendem a ver através de tantas mentiras da cultura em que vivemos. Porém, não se enganem: defender a justiça numa sociedade injusta não é glamouroso. Na verdade, isso tornar-vos párias, não serão bem-vindos nos círculos intelectuais da sociedade, muito menos na elite social. Serão desprezados, gozados e ridicularizados. Terão de desenvolver uma grande resistência. Valerá a pena?

Pensem nos abolicionistas de meados do século XIX ou nos defensores dos direitos civis dos negros, nos EUA, de meados do século XX: não se encaixavam nas sociedades da sua época, defendendo causas politicamente impopulares e deselegantes. Arriscaram – e alguns perderam – as suas vidas no esforço de corrigir as maiores injustiças do seu tempo. Agora são considerados os heróis morais das suas gerações. O mais célebre de todos eles, o Rev. Dr. Martin Luther King Jr., disse certa vez que “o arco do universo moral é longo, mas curva-se em direcção à justiça”. Isso, porém, só acontece quando uma nova geração de heróis morais se levanta para corrigir a injustiça, o que requer uma espinha dorsal forte e grande resistência espiritual. Serão vocês os heróis morais da vossa geração? Têm o que é preciso?

Terão, acima de tudo, se cultivarem a vossa vida em Jesus Cristo. Ele ama-vos. Ele deu a vida por vocês. Ele é o único Salvador do mundo, que nos ensina a verdade salvadora. Rezem, permaneçam activos e cresçam na vossa fé. Se o fizerem, irão ter sabedoria, fortaleza, coragem e paciência, e assim serão capazes de realmente promover a causa do desenvolvimento humano. O futuro está nas vossas mãos.

Deixo-vos com as palavras de Robin Sharma, famoso especialista em liderança e autor best-seller internacionalmente aclamado: “Tu podes encaixar-te. Ou podes mudar o mundo. Não podes fazer as duas coisas”. Se escolherem o último, o futuro será brilhante.

 

Atenciosamente em Cristo,

D. Salvador J. Cordileone

Artigo traduzido a partir do original.

 

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