António Pedro Barreiro

Seminarista da Paróquia de São Nicolau

Há uma grande discussão nos nossos dias acerca do chamado “limiar de atenção” (attention span). Os peritos acham – e os testes parecem confirmar – que estamos cada vez mais distraídos. Perdemo-nos a correr atrás da notificação mais recente, da notícia mais fresca, do vídeo mais curto e vertiginoso. Não conseguimos passar muito tempo embrenhados na mesma tarefa. Sentimos que temos de andar atentos a uma enorme variedade de estímulos. Vivemos sob o peso tremendo do imediatismo, do automático, da eficiência. Tornou-se um elogio dizer a alguém que é “uma máquina”. Aprofundar é um pesadelo; contemplar, uma raridade.

Num tempo assim, corredio e superficial, a existência de um Seminário sinaliza outra atitude, outro modo de estar. A palavra seminário tem a mesma origem de semente. Vemo-lo, por isso, como uma pequena e silenciosa sementeira, onde os gérmenes vão criando raízes e, depois, irrompem da terra em rebentos verdes e frágeis. Quem os visita todos os dias não nota a diferença. Mas há ali um dinamismo de crescimento e de sustentação que, no silêncio da noite, faz surgir com eficácia a promessa do futuro.

Charles Péguy, um dos grandes escritores católicos da França do século XX, tem uma belíssima meditação sobre a esperança, que diz assim:
A Fé é um grande árvore, um carvalho enraizado no coração de França. E, debaixo dos ramos dessa árvore, a Caridade, a minha filha Caridade, ampara todos os infortúnios do mundo. E a esperança, a minha pequenita, não é mais do que essa pequena promessa de rebento que se anuncia no delicado começo de Abril.
Quando vedes tanta força e tanta rudeza, esse rebento pequeno e terno já não parece nada. É ele que tem ar de parasitar a árvore, de comer à mesa da árvore.
E, no entanto, é dele que ao invés tudo vem. Sem um rebento que uma vez veio, a árvore não seria. Sem esses milhares de rebentos que vêm uma vez no princípio de Abril, ou talvez nos fins de Março, nada duraria, a árvore não duraria e não manteria o seu lugar.
[1]

Sete anos, oito anos para formar um padre é uma coisa que escandaliza o bom gosto utilitário do nosso tempo. É uma falta de eficiência, um desperdício, um desafio aos nossos critérios.  E, no entanto, haver quem gaste a sua vida assim; quem a derrame por Cristo, com Cristo e em Cristo, “em favor de muitos” (Mc 14, 24), parece surgir para nós como fonte de espanto e de esperança. Não é assunto que diga respeito apenas aos alunos e aos formadores dos seminários, mas a todos.

Quanto rezamos pelos seminários? Quanto agradecemos o dom de ter um seminário no coração da nossa diocese? Quanto contribuímos para o sustentar? Quanto suplicamos novas vocações, novas vidas para servir o futuro da Igreja? Quanto nos dispomos a entregar a nossa?
Este ano, no culminar da Semana dos Seminários, levemos para casa estas perguntas e deixemo-las crescer como sementes.
 


[1] Charles Péguy, O mistério dos santos inocentes (Lisboa: Lucerna, 2015), 11–12.
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