Igreja de Nossa Senhora da Conceição Velha
Padroeira
Mãe de Jesus, Maria é também Mãe da Igreja, Mãe de todos os cristãos. Modelo admirável pela sua total fidelidade nas alegrias e nas dores, e insigne intercessora junto do seu Filho, Maria é venerada como Rainha dos Anjos e dos Santos e nas suas mãos maternais se entregam confiantes as vidas dos cristãos, das comunidades, e mesmo dos países. É o caso de Portugal, consagrado desde os primórdios a Nossa Senhora, tendo particular destaque entre as invocações marianas a de Nossa Senhora da Conceição, aclamada Rainha e Padroeira de Portugal. Com a invocação de Nossa Senhora da Conceição, a Igreja celebra a Imaculada Conceição de Nossa Senhora, isto é, a sua concepção sem mancha de pecado: a Cheia de Graça por particular dom de Deus cumpriu a sua vida como uma obra plena de santidade, de bondade e de amor, inspirando-nos a todos a, com ela, como ela viver.
História
Em 1502, a Ermida de Nossa Senhora do Restelo foi integrada no Mosteiro dos Jerónimos, deixando de estar sob a tutela da Ordem de Cristo. D. Manuel, que em 1496 extinguira a Judiaria Grande de Lisboa, ofereceu o terreno da antiga sinagoga aos freires, que nele ergueram uma igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição, que se tornaria igreja paroquial em 1568. Situava-se este templo onde actualmente se cruzam as ruas dos Douradores e da Conceição.
Em 1682, esta igreja deixou de ser sede paroquial e foi construído um edifício que passaria a ser conhecido por Igreja de Nossa Senhora da Conceição Nova. Por seu turno, a Igreja da Conceição dos Freires passaria a ser designada por Conceição Velha; tendo sido destruída pelo Terramoto de 1755, viria também a ser reedificada, não no seu local original, mas no local da antiga Igreja da Misericórdia.
Um dos mais sumptuosos monumentos da cidade, a Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa havia sido inaugurada em 1534 como primeira casa própria desta Confraria. Templo de três naves, o seu projecto e programa decorativo terão estado a cargo de Diogo Boitaca, João de Castilho e Nicolau de Chanterene, entre outros. Muito afectada pelo Terramoto, sobreviveram-lhe parte da fachada sul e a capela lateral do Espírito Santo, mandada edificar em finais do século XVI por D. Simoa Godinha, rica dama natural da ilha de São Tomé.
Transferida a Santa Casa da Misericórdia para a Igreja de São Roque, em 1768, depois da expulsão dos Jesuítas, o rei D. José, grão-mestre da Ordem de Cristo, decidiu a reedificação da Conceição Velha no local da antiga Igreja da Misericórdia, aproveitando os elementos sobreviventes. O projecto coube aos arquitectos Francisco Ferreira, o Cangalhas, e a Honorato Correia, transferindo-se os freires e a sua padroeira em 1770. Transformada a antiga capela lateral em capela-mor, alinhada com a fachada sobrevivente, a nova igreja, tendo a virtude de conservar estes elementos quinhentistas, ficou, no entanto, consideravelmente mais pequena e algo desproporcional.
Património
A fachada é dominada pelo pórtico manuelino, composto por um grande arco encimado pela Cruz de Cristo e por duas esferas armilares. Em todo o conjunto sobressai a rica decoração: motivos vegetalistas, animais fantásticos, anjos, rendilhados, baldaquinos, estátuas – decoração comum à dos dois janelões. Sobre o portal, o tímpano representa Nossa Senhora da Misericórdia, a Virgem Maria acolhendo sob o seu manto toda a sociedade, clero, nobreza e povo.
Na Nave, o tecto em estuque pintado, apresenta um baixo-relevo da autoria de Félix da Rocha com o Triunfo de Nossa Senhora da Conceição. Nos altares laterais, os retábulos marmoreados enquadram telas de qualidade pictórica desigual: Nossa Senhora da Piedade e São Miguel Arcanjo, ambas de Bruno José do Vale; Última Ceia, de Joaquim Manuel da Rocha; Nossa Senhora da Atalaia, de um pintor francês conhecido como Mr. Gerárd; e Nossa Senhora da Pureza, de Joana do Salitre, uma das poucas mulheres pintoras da época.
Os nichos que ladeiam o arco triunfal albergam as imagens de São Pedro e São Paulo, atribuíveis à oficina de José de Almeida. Destacam-se, ainda, várias imagens de invocações marianas que aqui se encontram. Duas delas estão ligadas a votos relacionados com epidemias de peste na cidade: provinda da Capela da Alfândega, de que era padroeira, a pequena imagem de Nossa Senhora da Atalaia, cuja devoção remonta a 1507; por seu turno, a devoção a Nossa Senhora das Mercês remonta a 1309, sendo a actual imagem de 1771. Mas, pela longevidade e pelo lugar na história, a imagem de Nossa Senhora do Restelo impõe-se; de inícios do século XV, veio com os freires da Ordem de Cristo da ermida em Belém, onde os navegadores portugueses rezavam antes de partirem para as Descobertas.
A capela-mor é uma boa obra do maneirismo, notável pelas pilastras, nichos e almofadados em mármores polícromos, provavelmente da autoria de Jerónimo de Ruão. O retábulo, pouco elaborado, é obra mais tardia. No centro, sobre o trono, a imagem da padroeira, em madeira policromada, foi esculpida entre 1730-1740 por José de Almeida.
No coro, ao centro da balaustrada, uma extraordinária imagem setecentista de Cristo Crucificado é provavelmente o Santo Cristo dos Padecentes, cujo retábulo da Igreja da Misericórdia se terá salvado do Terramoto. O órgão de tubos da igreja é oriundo do Palácio das Necessidades.