Igreja Paroquial de São Nicolau
Padroeiro
São Nicolau nasceu em Pátara, na actual Turquia, cerca do ano 270, tendo morrido cerca de 350. Peregrino dos lugares santos, quis optar pelo despojamento e pela oração. Eleito Bispo de Mira, foi um dedicado pastor, sofrendo ainda as perseguições do imperador Diocleciano aos cristãos. Participante no Concílio de Niceia (ano 325), revelou-se um inabalável defensor da integridade da Fé.
Proveniente de famílias ricas, fez da generosidade e da caridade marcas da sua acção, sendo vários os milagres que operou em favor dos necessitados. Já registada no século VI, a sua veneração estendeu-se à Igreja latina sobretudo a partir do século XI, com a trasladação das suas relíquias para Bari, Itália. São Nicolau é invocado como patrono das crianças, pelo especial cuidado que lhes devotou; dos marinheiros e comerciantes, pelos milagres que operou em viagens marítimas; e dos pobres, pela sua generosidade para com eles.
História
Existindo já como sede paroquial em 1209, a igreja foi reedificada em 1280 por iniciativa do bispo D. Mateus. Entre 1616 e 1650 recebe nova campanha de obras, de uma só nave e dez capelas laterais com ricos retábulos de talha dourada. Depois do terramoto, as ruínas foram derrubadas em 1775, para no ano seguinte começar a reedificação, sensivelmente no mesmo local que antes ocupava, mas agora com a fachada principal a Norte, orientação incomum nas igrejas de Lisboa. As obras demoraram-se longamente, só estando a igreja terminada em 1850, o que motivou algumas diferenças nos estilos e na qualidade dos materiais. A traça coube a Reinaldo Manuel dos Santos, oriundo da Escola de Mafra e então arquitecto das Obras Públicas do Reino.
Património
Na nave da Igreja, o tecto abobado divide-se em cinco tramos, em estuque, com pinturas de António Manuel da Fonseca. No primeiro tramo, a Alegoria da Fé, Esperança e Caridade, e nos outras três, cenas da vida de São Nicolau. Nos medalhões laterais do lado do Evangelho, os quatro Evangelistas; nos do lado da Epístola, os quatro Doutores da Igreja. Sobre o arco triunfal, o brasão com as armas reais portuguesas e, no nicho a figura triunfante de Cristo Ressuscitado. A antiga capela do Santíssimo Sacramento, com grade em talha dourada, revestida de mármores, tecto em cúpula com pintura em medalhões e a tela representando Nossa Senhora da Caridade, de António Manuel da Fonseca. Os altares laterais com retábulos simples em talha marmoreada albergando imagens de santos. As imagens de Nossa Senhora Caridade e a imagem de Santa Catarina são da escola de Machado de Castro. As estações da Via Sacra em baixo-relevo nas pilastras da nave, são obra da década de 1930, atribuída a Salvador Barata Feyo.
Na Capela-mor o imponente retábulo em mármore, delimitado por colunas é rematado por frontão com os atributos de São Nicolau em relevo. No camarim, o trono eucarístico em talha dourada coroado por baldaquino proveio do Convento do Corpus Christi. Entronizado sobre uma peanha ao centro o padroeiro São Nicolau, com as suas insígnias episcopais, imagem setecentista em madeira estofada e policromada, que terá sobrevivido ao terramoto. A pintura do tecto, iniciada por Pedro Alexandrino de Carvalho representa a Glória de São Nicolau, com São Pedro e São Paulo e figuras alegóricas. Sobre peanhas, ladeando o altar, encontram-se as imagens setecentistas de São Julião e Santa Basilissa, da escola de Machado de Castro, provenientes da antiga Igreja de São Julião.
Em 1834, acabou por receber um significativo espólio de vários conventos encerrados nos anos subsequentes.
O baptistério, proveniente do Convento de São Francisco da Cidade, com dois relicários, retábulo emoldurando tela com a representação de Nossa Senhora da Conceição e as imagens de São Francisco e Santo António.
O órgão de génese setecentista, no coro é originário do Convento do Beato, tendo sido adaptado por António Luís da Rocha Fontanes aquando da sua instalação nesta Igreja de São Nicolau, em 1835.
Na capela de adoração, a pintura do tecto representa a Adoração ao Santíssimo Sacramento, de Pedro Alexandrino, e o frontal de relicários em talha com tela ao centro, em que figura São Vicente de Paulo, é obra da primeira metade do século XVIII, proveniente do Convento de Rilhafoles.
Na sacristia paroquial, a pintura do tecto, de Pedro Alexandrino, ostenta uma alegoria da Igreja esmagando a heresia. Sobre o arcaz, um frontal de relicários em talha dourada, com vinte e duas imagens-relicários em madeira policromada, proveniente do Convento das Clarissas de Nossa Senhora da Esperança.