O Homem foi criado com uma única finalidade: dar glória a Deus. Quer dizer, nós não acrescentamos nada à Sua glória, o que Ele quer é comunicá-la por meio do Homem. Cada Homem é chamado por Deus a comunicar essa glória de uma forma única. Essa forma única e personalizada é a melhor forma, porque foi Deus quem a pensou e quis para nós. Deus dá-nos, por meio da vocação, a graça de servir-mos a Igreja: uns unindo-se e tornando-se uma só carne num vínculo capaz de gerar vida e que só a morte é capaz de separar; outros configurando-se de forma mais radical e perfeita com Cristo, tornando-se outros Cristos, celebrando os sacramentos, quer dizer, atualizando a redenção de Cristo, fazendo-O presente na História, mesmo 2000 anos depois, e, por meio do celibato, ser sinal do Céu, ser a lembrança viva de que a nossa pátria é a vida eterna; outros consagrando a sua virgindade e pondo-se ao serviço da Igreja, na oração, no cuidado dos mais pobres, na educação das crianças, no testemunho de Cristo no meio do mundo, e por ai em diante.

Este percurso, embora seja de grande beleza, nem sempre é fácil. Porque é que Deus não diz simplesmente a cada um o que quer dele? Um amigo uma vez disse-me, e estou convencido de que tem razão, que Deus não nos diz logo o que quer de nós, porque quer que a nossa preocupação primeira seja seguir Cristo, quer que percebamos que a nossa vocação está onde Cristo estiver. É onde O encontrarmos que está a nossa vocação. Deus quer que a descubramos não tanto porque andámos preocupados em encontra-la, mas porque procurámos seguir Cristo. Cristo leva-nos sempre à vontade do Pai. A nossa vocação torna-se, por isso, uma resposta de amor. Ninguém será capaz de dar esta resposta se não tiver o seu olhar posto na Cruz. Quem não conhece o amor de Cristo, derramado na Cruz, nunca poderá responder. Só quem coloca a sua cruz aos ombros pode seguir Cristo. Só aquele que se refugia no calvário e reza, só aquele que escuta a Palavra de Deus e atenta aos Seus sinais, só esse é capaz de responder à sua vocação.